H29 Treinando no abismo

習 坎
  1. Yi Jing Orienta
  2. Yi Jing: Uma ferramenta para o autoconhecimento
  3. Hexagramas
  4. Hexagrama 29

TEXTOS GERAIS

NOME

習 坎 TREINANDO NO ABISMO 1

xi 124-05 W159A, formado por 羽 , ‘asas’, e 白 bái, ‘primeiro, começo’; o conjunto significa: “Sacudir as asas; aprender, estudar, praticar (principalmente por repetição); acostumar-se, hábito; virar experto”.

kân 032-04: “Buraco, fosso, armadilha; perigo, crise; nome do trigrama Água”.

No manuscrito de Mawangdui este hexagrama recebe o nome de 習 贛 xï gàn (贛 gàn 154-17 W73E: “Armadilha”), ou seja, Armadilha repetida (ou Treinando numa armadilha).

PALAVRAS-CHAVE

TREINAR:
Acostumar, adestrar, condicionar, domesticar, ensaiar, ensinar, instruir.
Habituar:
Aclimatar, acomodar, adaptar, afazer, afeiçoar, modelar, moldar.
Praticar:
Cultivar, desenvolver, efetuar, estudar, exercitar, realizar, traquejar.
ABISMO:
Alcantilado, barranco, barranqueira, precipício, profundeza, profundidade, quebrada, ribanceira, sorvedouro, tragadouro, vórtice.

OUTROS NOMES

JAVARY:
O treinamento nos abismos
Treinar-se na passagem dos precipícios. Superar as provas
RICCI:
Abismo, sucessão de perigos, momento onde as múltiplas dificuldades provocam um esforço redobrado para atingir o alvo.
ZAFRA:
Experimentando o medo
JAVARY:
A Repetição da Passagem dos Abismos
WING:
Perigo
REIFLER:
O Abismo
DAMIAN-KNIGHT:
Águas Profundas
SHCHUTSKII:
Abismo
LOISI:
O abismal, a água, afundar-se
GALL:
Água viva
BLOFELD:
O abismo
SIU:
Perigo
LEGGE:
O precipício perigoso
DAMIAN-KNIGHT:
Crepúsculo do espírito
CHIH-HSU:
Múltiplos perigos
WILHELM:
O abismal
REVERSO:
H29 ou H30
Afundar-se ou Aderir-se a algo

JULGAMENTO

() (kǎn)(yǒu) ()(wéi) (xīn) (hēng)(háng) (yǒu) (shàng)

Treinando no abismo: influencia tendo confiança e controlando a mente; suas ações serão respeitadas. 2

PALAVRAS-CHAVE

CONFIANÇA:
“Crença na probidade moral, na sinceridade afetiva, nas qualidades profissionais etc., de outrem, que torna incompatível imaginar um deslize, uma traição, uma demonstração de incompetência de sua parte; crédito, fé; crença de que algo não falhará, é bem-feito ou forte o suficiente para cumprir sua função; força interior; segurança, firmeza; crença ou certeza de que suas expectativas serão concretizadas; esperança, otimismo; sentimento de respeito, concórdia, segurança mútua”. Certeza, confidência, crédito, fé, fidúcia, segurança.
CONTROLAR:
“Submeter a exame e vigilância estritos; fiscalizar, monitorar; exercer ação restritiva sobre; conter, regular; frear ou moderar os próprios impulsos; manter o autocontrole; dominar(-se), conter(-se)”.
INFLUIR:
Aconselhar, animar, assoprar, encaminhar, estimular, iluminar, imbuir, imprimir, inculcar, induzir, infundir, insinuar, instigar, instilar, insuflar, levar, originar, persuadir, soprar, sugerir, sugestionar.

O yang ocupa o centro dos trigramas constituintes e está rodeado por duas linhas yin, representando fortaleza e solidez no interior, ao mesmo tempo em que se exibe ductilidade e flexibilidade no exterior. Essas atitudes se manifestam tendo confiança nas próprias capacidades e ‘amarrando’ a mente para impedir que se deixe dominar pelo medo do que ‘poderia acontecer neste momento de perigo’. Dessa forma é possível exercer uma grande influência no mundo e enfrentar qualquer perigo, por maior que seja.

A confiança nas nossas capacidades é o primeiro passo para superar os perigos e nós só a conquistamos se treinamos constantemente essas aptidões.

EXPLICAÇÃO DO JULGAMENTO

() (kǎn)(zhòng) (xiǎn) ()

(shuǐ) (liú) (ér) () (yíng)(háng) (xiǎn) (ér) () (shī) () (xìn)

(wéi) (xīn) (hēng)(nǎi) () (gāng) (zhōng) ()

(háng) (yǒu) (shàng)(wǎng) (yǒu) (gōng) ()

(tiān) (xiǎn) () () (shēng) ()() (xiǎn) (shān) (chuān) (qiū) (líng) ()(wáng) (gōng) (shè) (xiǎn) () (shǒu) () (guó)

(kǎn) (zhī) (shí) (yòng) () () (zāi)

Treinar no abismo significa sobrecarregar-se de perigos! 3

A água flui e não se acumula, age perigosamente e não perde sua confiança. 4

Influencia controlando sua mente, porque o firme está no centro!

Suas ações são respeitadas, por isso avançar, ainda que desordenadamente, tem méritos! 5

Os perigos do Céu não permitem subir até ele! Os perigos da Terra são as montanhas, rios, colinas e montes! Os reis e príncipes organizam os perigos para defender seus países. 6

O momento de treinar no abismo tem uma utilidade extremamente grande, não é verdade?

A água circula por lugares perigosos sem perder suas características intrínsecas, flexibilidade e adaptabilidade, e, por confiar nelas, acaba atingindo seus objetivos.

Por não poder ser alcançado é que o Céu mantém sua posição exaltada e sua majestade intrínseca; por ser difícil circular por ela é que a Terra tem sua posição dignificada. Da mesma forma os governantes se aproveitam dos acidentes naturais para delimitarem fronteiras e estabelecem guarnições militares para impedir a aproximação de inimigos, assim como criam situações políticas perigosas para desestimulá-los. Vemos que o perigo não é uma sensação estéril já que dele podemos extrair inúmeras consequências úteis.

Existem situações que justificam enfrentar perigos pelas compensações que acarretam, mas, para isso, é necessário efetuar um treinamento cuidadoso para sobreviver aos riscos que deverão ser superados.

IMAGEM

(shuǐ) (jiàn) (zhì)() (kǎn)(jūn) () () (cháng) () (háng)() (jiào) (shì)

A água flui e chega [ao seu destino] treinando no abismo. 7

Assim, a pessoa sábia age com virtude constante e nas suas atividades pratica os ensinamentos. 8

O texto destaca que os ensinamentos transmitidos pela tradição são o grande referencial que temos para pautar nossa conduta perante o perigo. Não devemos esquecer que esses próprios ensinamentos são o resultado da prática concreta de inumeráveis indivíduos ao longo de gerações.

SEQUÊNCIA

() () () () (zhōng) (guò)() (shòu) (zhī) () (kǎn)(kǎn) (zhě) (xiàn) ()

As coisas não podem se exceder indefinidamente, por isso agora vem treinando no abismo; abismo é onde se cai.

Quando alguém excede suas capacidades sem consciência dos seus limites certamente cairá num abismo cheio de perigos.

HEXAGRAMAS MISTURADOS

() (shàng)(ér) (kǎn) (xià) ()

Aderindo como o fogo se dirige para cima, treinando no abismo, para baixo.

DESCRIÇÃO DO MOMENTO

Quando alguma coisa se excede, ainda que seja grande, terminará por cair num abismo. Por isso é recomendado treinar como reagir perante essas situações perigosas, a fim de conseguir controlá-las, dentro do possível. Só depois poderemos ver objetivamente a situação, como nos ensina aderindo como o fogo.

O trigrama Água nos apresenta a imagem de um profundo cânion, no fundo do qual corre um tumultuoso rio de montanha. Quando duplicado, fica reforçada a ideia de dificuldades, problemas e perigos a serem superados.

Mas, o que é um perigo? O Dicionário Aurélio define 'perigo' como: "1- Circunstância que prenuncia um mal para alguém ou para alguma coisa: 2- Aquilo que provoca tal circunstância; risco: 3- Estado ou situação que inspira cuidado; gravidade". Ou seja, um perigo não é uma situação determinada que devamos administrar, ele é um anúncio, ou seja, é mais uma sensação psicológica do que algo concreto. A resposta mais comum a este anúncio é MEDO, e este hexagrama trata das formas de enfrentá-lo.

O medo se origina na visão antecipada dos momentos difíceis pelos quais, eventualmente, deveremos passar. Daqui se desprende o conselho fundamental deste hexagrama: os momentos prévios à manifestação concreta das dificuldades devem ser aproveitados para nos familiarizarmos com as atitudes e ações que serão necessárias no momento oportuno. Noutras palavras: devemos TREINAR para atingirmos certa capacitação que aumente nossas chances de superar as dificuldades por vir.

O texto dos Hexagramas Misturados nos diz que “treinar no abismo significa descer”, ou seja, aproveitar o momento do perigo para treinar nossas capacidades implica vencer o medo instintivo que sentimos, originado nas profundezas do nosso ser. Para isso devemos ter muito claras as diferenças entre o problema potencial e o concreto. Noutras palavras, o abismo é perigoso não porque estejamos caindo nele, mas porque estamos com medo de cair antes de começar a descer ou subir e sem sabermos se efetivamente cairemos ou não.

Não temos aqui um verdadeiro enfrentamento do perigo, como acontece no H10, Andando com cuidado, onde realmente devemos passar por um tigre que pode nos morder. Tudo neste H29 é 'interno' e se refere às capacidades, psíquicas e físicas, de que dispomos para enfrentar as circunstâncias que se nos apresentam como perigosas.

O fato de se tratar de um ensaio geral de como nos prepararmos para enfrentar nossos problemas fica corroborado pela falta, neste hexagrama, da excitação própria de quem efetivamente superou um perigo, a alegria produzida pela sensação da própria força que, eventualmente, pode desembocar na húbris, o excesso de orgulho e autoconfiança tão destacado pelos gregos.

O hexagrama nuclear é H27, Nutrindo-se adequadamente, deixando implícito que, para treinarmos adequadamente nos perigos, devemos cuidar previamente da nossa alimentação num sentido geral, ou seja, de tudo aquilo que aumente nossas energias.

O hexagrama antagônico é H30, Dependendo como o fogo. Isso nos ensina que o medo produzido pela sensação de perigo nos impede uma visão objetiva da nossa situação e das ações necessárias para levá-la a uma conclusão satisfatória a nossas expectativas.

Por ser simétrico, este hexagrama não tem um hexagrama oposto. Isso significa que o perigo não nos permite uma visão alternativa à nossa sensação de medo, que tende, portanto, a dominar todas nossas reações.

As diferentes linhas mostram diversos resultados do treinamento para superar o medo, mas nenhuma se apresenta como sendo "benéfica", já que isto significaria estar saindo efetivamente da situação perigosa; esta ainda terá que ser enfrentada, e as linhas estão somente mostrando a preparação para agir no futuro:

  • H296 Se deixa dominar pelo medo.
  • H295 Deve superar a autoconfiança.
  • H294 Aproveita os poucos ensinamentos que recebe.
  • H293 Não há nada que possa fazer.
  • H292 Só melhora um pouco suas capacidades.
  • H291 Não consegue aumentar suas capacidades.

Vemos que os motivos condutores das linhas são: da e , a limitação; da e , os resultados do treinamento; e da e , o medo que as vence. Outro agrupamento nos mostra que a 1ª, 2ª e 3ª não conseguem sair do perigo, enquanto que a 4ª, 5ª e 6ª têm a possibilidade de sair, condicionada às suas atitudes.

LINHAS

H291 => H601 Limitando equilibradamente

  1. () (kǎn)() () (kǎn) (dàn)(xiōng)

    Treinando no abismo, entra num buraco no fundo do abismo, prejuízo. 9

  2. () (kǎn) () (kǎn)(shī) (dào) (xiōng) ()

    Treinando no abismo entra no fundo do mesmo, prejudicando-se porque perdeu seu caminho!

Yin em posição yang, sem correspondência e em vizinhança com a controlada 2ª, esta linha se encontra diante de dois abismos, perdida e sem ajuda externa. Em uma situação de tal desamparo, ela necessita limitar equilibradamente (H60) sua ação e "não sair da casa ao pátio" (H601), quer dizer, deve ficar no já conhecido. Ela não deve tentar exceder suas capacidades presentes, aceitando conviver com o perigo sem sair dele porque, caso contrário, perderá definitivamente seu caminho e o infortúnio será inevitável. Em resumo: ‘não dar um passo maior do que as pernas’.

H292 => H082 Aproximando-se mutuamente

  1. (kǎn) (yǒu) (xiǎn)(qiú) (xiǎo) ()

    No abismo há perigo, procurar só ganhos pequenos. 10

  2. (qiú) (xiǎo) ()(wèi) (chū) (zhōng) ()

    Procura só ganhos pequenos porque ainda não saiu do meio [do abismo]! 11

Yang em posição yin central, sem correspondência e vizinhança com a limitada 1ª e a imobilizada 3ª, esta linha tem muita energia para sua posição e deve controlar sua vontade de agir precipitadamente para fugir do perigo. Ela deve começar por fazer algo para incrementar suas capacidades, contentando-se com pequenos ganhos nessa área. Para isso, deve evitar se dispersar, agindo “espontânea e interiormente" como diz H082, para se aproximar do perigo sem se perder (H082), controlando seus medos conscientes e concentrando sua energia em si mesma para eliminar o excesso yang (aumentado ainda por participar do trigrama nuclear Trovão).

Esta linha não deve tentar "sair dando porrada".

H293 => H483 Doando como um poço

  1. (lái) (zhī) (kǎn) (kǎn)(xiǎn) (qiě) (zhěn)() () (kǎn) (dàn)() (yòng)

    Indo e vindo de abismo em abismo, em perigo até o pescoço, entra num buraco no fundo do abismo, isso não é útil. 12

  2. (lái) (zhī) (kǎn) (kǎn)(zhōng) () (gōng) ()

    Indo e vindo de abismo em abismo acaba sem nenhum mérito! 13

Yin em posição yang, sem correspondência e em vizinhança com a diminuída 2ª, que não tem recursos para ajudá-la, e a esgotada 4ª, esta linha carece das energias que sua posição exige. Ela fica sem alternativas de ação por se encontrar entre os dois trigramas abismo: se avançar cai em um, se ficar cai no outro, (o proverbial ‘se correr o bicho pega, se ficar o bicho come’). Essa imobilidade deixa ao sujeito desta linha frustrado e com o “coração sofrendo”, porque gostaria de agir como se fosse “um poço limpo a ser usado para puxar água, mas a realidade é que ele não consegue alimentar” ninguém (H483).

Esta linha deve manter a calma e a serenidade no meio do perigo e, ‘sem fazer marolas’, aguardar que os tempos mudem.

H294 => H474 Oprimido pela conjuntura

  1. (zūn) (jiǔ) (guǐ) (èr)(yòng) (fǒu)() (yuē) () (yǒu)(zhōng) () (jiù)

    Uma jarra de vinho e uma tigela, feitos de barro, presentes frugais [que o ajudam] a se esclarecer a si mesmo e acabar sem nenhum erro. 14

  2. (zūn) (jiǔ) (guǐ) (èr)(gāng) (róu) () ()

    Uma jarra de vinho e uma tigela são os limites entre o firme e o maleável! 15

Yin em posição yin, sem correspondência e em vizinhança com a imobilizada 3ª e a experiente 5ª, esta linha tem a possibilidade de sair da situação de perigo em função do apoio desta última, situação representada pelo par formado pela jarra (para vinho, a 4ª linha flexível) e a tigela (para alimento, a 5ª linha sólida).

A ajuda que a 4ª vai receber não é muito grande, mas será o suficiente para que tenha uma correta percepção da sua situação e acabe encontrando o caminho de saída do perigo, ainda que, como diz H474, o faça "muito lentamente e oprimida". Para isso deve treinar e aprender os limites entre ação e passividade, rigidez e flexibilidade e aceitar os ensinamentos recebidos, ainda que lhe pareçam poucos ou pobres demais.

No meio dos perigos e incertezas é conveniente apreciar os aspectos simples da vida.

H295 => H075 Liderando com experiência

  1. (kǎn) () (yíng)(zhǐ) () (píng)() (jiù)

    O abismo não encheu, somente quando se aplane não haverá erro. 16

  2. (kǎn) () (yíng)(zhōng) (wèi) () ()

    O abismo não encheu porque o equilíbrio ainda não é grande!

Yang em posição yang central, esta linha não tem correspondência e vizinhanças com a esgotada 4ª e a amarrada 6ª, por isso sua situação não é tão boa, apesar de ter muita energia e da sua condição central. "O abismo não encheu" significa que esta linha ainda não está suficientemente preparada para sair do perigo que a ameaça. Para conseguir esse objetivo é necessário olhar a situação da H075, onde um chefe experiente e ponderado consegue uma vitória para o exército que lidera, enquanto que um chefe inexperiente só provoca uma carnificina inútil. Por isto, esta linha não deve confiar somente na sua posição aparentemente favorável e deve evitar atitudes impulsivas, não subestimando o perigo, concentrando esforços no seu treinamento e vencendo o excesso de autoconfiança.

H296 => H596 Dispersando a rigidez

  1. () (yòng) (huī) ()(zhì) () (cóng) ()(sān) (suì) () ()(xiōng)

    Amarrado com fortes cordas, aprisionado numa densa floresta, por três anos não consegue nada, prejuízo. 17

  2. (shàng) (liù) (shī) (dào)(xiōng) (sān) (suì) ()

    O seis do topo perdeu o caminho, este prejuízo dura três anos!

Yin em posição yin e no topo do abismo, esta linha, sem correspondência e em relação de vizinhança com a experiente 5ª, representa um sábio com poucas energias, mas que está praticamente fora do perigo e poderia sair dele com facilidade. Infelizmente, não o consegue porque seus medos, que fazem "seu sangue se dispersar" (como diz H596), espalham sua ação em várias direções. Dessa forma, suas energias vitais são dissipadas em atitudes inúteis e ineficientes. Esta linha se afoga literalmente "num copo d’água".

NOTAS

  1. Geralmente, os autores traduzem como 'repetido' ou 'duplicado', uma referência à duplicação do trigrama constituinte, mas isso não acontece nos outros hexagramas formados por trigramas duplicados. Por outro lado, é utilizada em H022 com o sentido de 'praticar', 'trabalhar', 'se esforçar' (Lynn, pág.146) e de 'experto em' (Xú Zihong, pág.19). O próprio Wang Bi diz que "xí se refere a praticar alguma coisa constantemente" (Lynn, pág.317) e Kong Yingda destaca os dois sentidos de 'repetição' e 'prática' (Lynn, pág.322, nota1). Para complicar ainda mais a situação este hexagrama é, muitas vezes, nomeado simplesmente como 坎 kân, “abismo”, que, a rigor, é o nome do trigrama Água.
  2. : “Aprender por repetição”. // 維 wéi 120-08, formado pelo radical 120 mì W92A, ‘fio fino’, e 隹 zhüi W168A, ‘um pássaro com um rabo pequeno’, o conjunto mostrando um pássaro impossibilitado de voar por estar amarrado. A palavra significa: “Corda, linha; amarrar, manter; Razão, textura, lógica; princípio, regra”. // 尚 shàng: “Valorar, estimar, honrar”.
  3. zhòng: “Sério, importante, grave; enfatizar; empilhar, repetidamente”. // 險 xiân: “Um desfiladeiro perigoso, difícil, profundo, inexpugnável; sinistro, mau”.
  4. xìn: “Confiança, fé”.
  5. göng: “Méritos, créditos, honrarias”.
  6. qiü: “Colina”. // 陵 líng: “Montículo, tumba”. // 設 shè: “Arranjar, estabelecer, organizar”. // 守 shôu: “Defender, guardar”.
  7. jiàn: “Água fluindo; repetidamente”. // 至 zhì: “Alcançar, conduzir a, chegar a; atingir perfeição; o máximo, o perfeito; extremo”.
  8. jiäo: “Ensinar, educar; ensinamento, doutrina, religião”. // 事 shì “Assuntos, atividades”.
  9. : “Entrar”. // 于 : “Aqui; em”. // 窞 dàn: “Buraco”.
  10. qiú: “Procurar; desejar”. // 得 : “Obter, ganhar”.
  11. chü: “Sair, exceder”.
  12. zhï: “Ir; de”. // 且 qiê: “E, também; é mais; no ponto de”. // 枕 zhên 075-04: “Almofada”; Couvreur: “Osso da cabeça, occipício”. // 用 yòng: “Usar; pôr em prática; ação, função, atividade”.
  13. göng: “Méritos, honrarias”.
  14. zün: “Jarra para vinho” (Mawangdui traz 奠 diàn: “Oferecer libações”, o que caracteriza o sentido espiritual da frase) // 酒 jiû: “Vinho, sake”. // 簋 guî: “Terrina, sopeira”. // 貳 èr (154-05): “Dois, dobre; duplicidade; misturar”. // 缶 fôu (121-00): “Louça de barro ou argila”. // 納 (120-04): “Entrar, contribuir, trazer; receber, pôr, colocar em; outorgar; pagar”. // 約 yüe: “Frugal, pobre”. // 自 : “Si mesmo; automaticamente; por si mesmo; seguir, vir de”. // 牖 yôu (091-11 W127): “Janela; iluminar, ensinar”. (Se consideramos que o caráter está formado por: 片 pian, “metade de uma árvore”, mais 甫 fû [fonética 271, W109D]: “capacidade para formar e governar uma família”, mais 戶 hù (W129) “uma folha de porta”, o conjunto mostra uma aptidão para abrir portas, pelo que podemos deduzir que o significado principal desta palavra no texto é o de ‘iluminar ou ensinar’ e não o de ‘janela’, que é o mais utilizado nas traduções.)
  15. : “Ocasião; lado, borda, fronteira; extremidade; origem, fim”.
  16. yíng: “Cheio, transbordar, exceder”. // 祇 zhï: “Somente, mas; justo; no entanto”. // 既 : “Desde, quando; já, efetivamente; terminar, acabar”. // 平 píng: “Nivelar, acalmar, controlar”.
  17. : “Amarrado”. // 徽 huï: “Corda”. // 纆 : “Corda; amarrar”. // 置 zhì: “Instalado, colocado, inserido” (Xu Zihong traz outro caráter que não aparece nos dicionários disponíveis) // 于 : “Em, aqui”. // 叢 cóng: “Uma massa de árvores”. // 棘 : “Trepadeiras”. // 歲 suì: “Ano”. // 得 : “Obter”. // Esta linha é muito complexa. Ela é yin em posição yin, não tem correspondente, ou seja, está sozinha como todos aqueles que têm que enfrentar um perigo, mas sua relação de vizinhança com a 5ª poderia lhe representar algum tipo de ajuda. Ela está no topo do abismo, praticamente fora dele, na exata situação que para a 5ª é apresentada como um benefício: estar nivelado com a borda do abismo. Então, por que um oráculo tão negativo? Diversos autores dão diferentes explicações: 1o) Wang Bi (Lynn, pág.315) diz que a 6ª está no topo do perigo, no lugar onde ele atinge seu ponto máximo. Discordo desta interpretação porque é evidente que o lugar mais perigoso de um abismo é seu fundo, coisa que já foi caracterizada na 1ª linha, que cai num buraco no fundo do abismo. 2o) Wilhelm (Wilhelm, pág.105) diz que a 6ª está num extremo perigo que a leva a um emaranhado de erros; ele justifica a negatividade pela relação de vizinhança com a 5ª (Wilhelm, pág.395), mas isso significa o mesmo problema da interpretação de Wang Bi. Minha opinião é que esta linha está praticamente fora do perigo e realmente poderia sair dele com facilidade, mas a chave de suas dificuldades está no texto da H596, linha à qual muda.