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HEXAGRAMA 4: SUPERANDO IGNORÂNCIA

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JULGAMENTO

“SUPERANDO A IGNORÂNCIA se exerce influência. Não sou eu quem procura o jovem ignorante, o jovem ignorante me procura.
À primeira consulta respondo; caso sejam duas ou três fica molesto; molestando, não respondo. [Tendo isso em conta,] é conveniente insistir.”

Obter este hexagrama revela que a pessoa sobre quem se consulta o oráculo encontra-se sob a influência da ignorância, com relação à realidade abrangida pela consulta, ou simplesmente não sabe como agir frente a essa realidade. Revela ainda que, para o bom desenvolvimento do assunto em foco, é desejável ou necessário que essa ignorância seja superada.

Entre outras, pode estar aqui espelhada a situação de alguém que comete erros por ignorância, inexperiência, falta de traquejo e outras falhas próprias dos novos e inexperientes, que não erram por recusar o certo, mas sim por desconhecê-lo; ou a situação de alguém que se encontra na posição de iniciante, educando, aprendiz, daquele que tem de começar pelo primeiro degrau e ir avançando passo a passo, de preferência com humildade e aproveitando a orientação dos mais experimentados; ou ainda de alguém que, na posição de consulente do Yi Jing ou de outra fonte de consulta, se mostre impaciente e insatisfeito, insistindo repetidamente em torno de uma mesma questão ou assunto, para o qual já recebeu resposta suficiente.

Se a consulta for sobre um estudante, uma criança ou um adolescente, o oráculo está dizendo que se deve promover a educação daquele indivíduo e dá as bases do processo educacional: o interesse e receptividade do educando; a disponibilidade, prontidão e firmeza do educador; e a persistência de ambos, que leva ao aprendizado, que é o fim e o sucesso da educação.

Deve-se ver em qual ou quais desses casos se enquadra o sujeito da consulta.

Tendo-se obtido apenas este hexagrama, sem linhas mutantes, ou tendo-se-o obtido como primeiro, o que se pode depreender como previsão é que o bom andamento do assunto em questão virá de uma melhor preparação ou orientação do sujeito. O sucesso não será imediato, mas dependerá de aprender a lidar com a realidade que tem diante de si e de persistir insistentemente no seu propósito até conseguir o que quer, evitando atritos, contornando obstáculos, não tendo vergonha nem preguiça de percorrer todos os passos para chegar até lá, pedindo ajuda e/ou informação sempre que necessário, no que provavelmente será atendido. O que o sujeito não deve fazer é ficar parado sem saber como agir e sem procurar orientação, nem agir impulsivamente, achando que já sabe o que precisa. As linhas móveis obtidas indicarão detalhes ou conselhos adicionais específicos para a situação.

Se este hexagrama saiu como segundo, derivado das mutações de um anterior, provavelmente indica que a causa de uma determinada circunstância foi a ignorância ou inexperiência do sujeito da consulta, ou que a conseqüência de determinados acontecimentos será como que um retorno à condição de iniciante ou de aprendiz. Pode ainda ser um aviso do Yi Jing de que não deve mais ser consultado sobre aquela questão. Neste caso, a pessoa deve seguir as orientações que já foram dadas no hexagrama anterior, mantendo-se sempre no rumo do que é correto.

IMAGEM

"Na base da montanha jorra uma fonte, SUPERANDO A IGNORÂNCIA.
Assim, a pessoa sábia, com seu agir frutífero, desenvolve seu potencial."

A pessoa que obteve este hexagrama na consulta ao Yi Jing está na situação em que se assemelha ao jovem, naquilo que a juventude tem de insensatez, de ignorância, de inexperiência e de desejo ou necessidade de superar essas deficiências através de uma ação que dê resultado. Portanto, está na condição de alguém que precisa aprender algo, com relação à matéria da consulta.

A maneira correta de aprender, segundo a Imagem, é agindo com vistas a desenvolver o potencial já existente na pessoa: cada um aprende aquilo que tem capacidade de aprender, e o papel do mestre é perceber o potencial do educando e agir de modo a facilitar e estimular o seu desenvolvimento, visando a que ele supere a sua ignorância naquilo que é possível.

1ª LINHA (6)

“Quando manifesta sua ignorância é conveniente e útil castigá-lo, mas só se for para remover-lhe grilhões e algemas, já que avançar desordenadamente envergonha.”

Esta 1ª linha mostra duas pessoas: a que deve aprender (o educando) e a que deve ensinar (o educador).

O educando vê a tarefa que tem pela frente como algo difícil e perigoso, cujo fim lhe parece inatingível, e desejaria fugir, escapar-se da tarefa do aprendizado, procurar atividades mais alegres.

Mas não pode fugir, pois está na situação da ignorância que deve ser superada, subordinado a uma pessoa ou entidade que tomou a seu cargo ensiná-lo, prepará-lo para alguma função ou para a vida em geral.

O educador, vendo a tendência escapista do educando, procura prendê-lo com normas muito rígidas, tratá-lo com excessivo rigor. Não deve fazê-lo, pois isso humilha e entristece o educando, envergonhando-o, e não favorece em nada o processo educacional, podendo inclusive pô-lo a perder.

O educador deve, isto sim, desenvolver a disciplina no educando através do método, com equilíbrio, e avançar aos poucos com a matéria a ser ensinada, indo devagar e sobretudo deixando-o contrabalançar tarefas e folgas.

O educando também deve procurar desenvolver em si a disciplina e fazer prevalecer o seu próprio ritmo de progresso.

Desse modo a aprendizagem terá bases sólidas, o que não ocorreria se o educando conseguisse se furtar ao processo ou se o educador o mantivesse presente somente à força.

Isso também se aplica, naturalmente, ao caso em que a pessoa é o seu próprio educador. O equilíbrio deve prevalecer.

2ª LINHA (9)

“Conter sua ignorância é benéfico.
Tomar uma esposa é benéfico porque o jovem mostra-se capaz de manter uma família.”

A pessoa a quem se refere a 2ª linha está, na situação enfocada pela consulta, muito bem relacionada, em todos os níveis: ela é, aparentemente, o braço direito de alguém que possui posição de liderança ou comando na situação; além disso, é benquista pelos elementos novos - os mais jovens ou os iniciantes - que a procuram, e se dá bem com os demais.

A sua situação é muito equilibrada. Em seu caráter ela combina determinação com flexibilidade, firmeza com adaptabilidade. Na sua ação ela harmoniza dedicação e cumprimento dos deveres com autonomia e iniciativa. Tem a paciência de contornar os obstáculos e dificuldades - que existem - mas também tem coragem para enfrentá-los, se for o caso. Por tudo isso, essa pessoa se assemelha a um discípulo em estágio avançado ou a um mestre em estágio inicial. Em suma, é alguém que tem preparo e conhecimento para assumir a tarefa que tem pela frente, mas ainda não tem experiência, ainda está na situação de ter de superar a ignorância. Seria bom, para essa pessoa, assumir as responsabilidades da vida adulta, especialmente no que diz respeito aos relacionamentos.

Para manter o equilíbrio e garantir a sua posição, agora e no futuro, a pessoa deve conter o avanço de elementos inferiores (pessoas ignorantes, invejosas, sem caráter, etc., ou sentimentos negativos, depressivos, ou ainda outro tipo de coisas); deve garantir bases sólidas em todas as suas ações; e, principalmente, deve estabelecer e manter alianças estreitas, pois elas é que lhe darão apoio e evitarão a ruína de seus projetos.

3ª LINHA (6)

“Não é proveitoso casar-se com uma jovem que, ao ver um homem rico, entrega seu corpo; nenhum lugar é conveniente.”

Convém lembrar, antes de tudo que a pessoa a quem se refere a 3ª linha do hexagrama 4 tanto pode ser o sujeito da consulta quanto alguém a ele relacionado na questão em foco.

Se for o sujeito da consulta, o oráculo o está alertando sobre um erro no seu comportamento. Se for uma outra pessoa participante da realidade enfocada pela consulta, o oráculo está fazendo uma advertência quanto à inconveniência de uma ligação com tal pessoa.

De qualquer modo, as características da pessoa indicada por esta linha são:

  • fraqueza de personalidade;
  • imaturidade emocional;
  • inexperiência;
  • impulsividade;
  • precipitação;
  • superficialidade de valores;
  • ambição.

Não faz diferença se essas características forem permanentes na pessoa ou se forem apenas circunstanciais.

Em seu comportamento, ela age impulsivamente em direção a um alvo, possivelmente outra pessoa, levada exclusivamente por interesse, pelas aparências ou por outros fatores exteriores e superficiais, e não por qualidades morais ou espirituais. Esse alvo, entretanto, é excessivamente elevado para ela que, por causa dele, despreza outros elementos, talvez mais modestos, os quais estariam à sua altura. Nesse atirar-se não há sentimento nenhum de apreço ou devoção.

A pessoa, sendo imatura e/ou de personalidade fraca, lança-se completamente na direção desejada, abandonando valores pessoais, familiares, etc. Praticamente deixa de ser ela própria. Isso, evidentemente, é um mal para a pessoa e será um mal para quem se associar a ela, razão pela qual o Yi Jing adverte que se evite essa união.

Apesar de todo o seu impulso para avançar, o que de fato a pessoa da 3ª linha faz é permanecer na situação de ignorância, estagnada e subordinada, por algum tempo.

Em seguida a esse período, porém, tendo amadurecido, refletirá sobre seu comportamento insensato e o corrigirá. Mesmo que lhe fique algum remorso, não precisa sentir-se culpada, porque, afinal, seu erro foi causado por ignorância e não por má intenção.

4ª LINHA (6)

“Limitado pela sua ignorância se envergonha.”

A pessoa indicada pela 4ª linha está limitada pela sua própria ignorância, inexperiência, insensatez ou imaturidade. Não há como atingi-la com bons conselhos ou ensinamentos neste momento, pois ela está tão fechada na sua própria limitação que não enxerga a realidade.

Assim, o correto a fazer quanto a essa pessoa é deixá-la entregue a si mesma, uma vez que não adiantará de nada tentar fazê-la ver as coisas ou agir de outra maneira, pois ela simplesmente não considera outros pontos de vista além do seu.

Se a pessoa da 4ª linha for o próprio sujeito da consulta, o oráculo lhe está mostrando o seu comportamento insensato. Se for outra pessoa envolvida na situação, está ensinando como agir corretamente em relação a ela.

Infelizmente, o ponto de vista da pessoa da 4ª linha, bem como os seus conhecimentos e meios, não são suficientes para fazer com que tenha sucesso naquilo que empreende, dentro da matéria da consulta, e ela não conseguirá nada por enquanto, além de vergonha e arrependimento.

Com o correr do tempo, é possível que venha a aceitar alguma orientação e/ou apoio e encontre um rumo certo para as suas ações. Mesmo assim enfrentará dificuldades e os resultados demorarão a chegar.

5ª LINHA (6)

“Uma ignorância infantil é benéfica.”

A pessoa a quem se refere a 5ª linha, devido à sua ignorância, se vê trazida a uma condição semelhante à da criança, no que se refere a ter necessidade e disposição de aprender, de evoluir.

Assim, ela possui - ou deve tratar de desenvolver - a modéstia suficiente para aprender aquilo que não sabe, mesmo que sua posição social ou hierárquica seja superior à daqueles que a podem ensinar.

Ela também possui capacidade de dedicação, firmeza interior e responsabilidade, de modo que não perde de vista seus objetivos e consegue levar a cabo seus projetos, mesmo ainda tendo que passar pelo aprendizado.

A sua simplicidade, despretensão e receptividade - na matéria enfocada pela consulta - é que fazem com que se assemelhe a uma criança sequiosa por aprender tudo, e por isso ela atrai a simpatia daqueles que podem fornecer-lhe os conhecimentos necessários, pois eles percebem a sua dedicação e interesse sincero.

Assim a pessoa, ao longo do tempo, dissolve os bloqueios da ignorância e da inexperiência, que poderiam tolhê-la no seu desenvolvimento, firma-se na sua posição e consegue fazer com que se realize o que deseja, esforçando-se para isso e agindo sempre na linha do que é certo.

6ª LINHA (9)

“Punindo a ignorância não é conveniente converter-se num agressor, convém controlar sua agressão.”

A pessoa a quem se refere esta linha desempenha, na situação enfocada pela consulta, o papel de educador e/ou de autoridade.

Ela se relaciona diretamente com seres que necessitam de orientação ou de tutela, neste momento. Esses, devido à sua falta de conhecimento, experiência ou maturidade, muitas vezes não agem da maneira mais correta, como seria de desejar. Dentre eles, um parece ser bastante impulsivo e facilmente influenciável, ao passo que outro mostra boa disposição para aprender e tem maior estabilidade emocional.

A pessoa da 6ª linha, por sua vez, devido à sua idade, experiência ou à natureza do trabalho que exerce, não tem muita paciência para com os ignorantes e seus erros, e por isso apresenta a tendência a ser demasiado rígida na tentativa de correção dos erros.

Isso, porém, também é um erro, e o oráculo adverte essa pessoa de que a sua tarefa é de orientação e até de proteção daqueles que estão sob a sua responsabilidade. Sendo assim, o que ela deve fazer é prevenir e coibir erros, excessos, prejuízos, injustiças, abusos, agressões, etc., e não, em nome da ordem, cometer erros, excessos, abusos, injustiças, agressões, etc., realizando o mal ao invés de evitá-lo.

Assim, a recomendação geral é de equilíbrio: a pessoa da 6ª linha não deve permitir que os outros saiam da linha do equilíbrio, mas, ao fazer isso, ela também tem que manter uma atitude equilibrada. Os dois lados têm que obedecer à lei da moderação: não pode haver excessos nem do lado do erro nem do lado da correção; nem do lado do subordinado nem do lado da autoridade.

Esta linha trata de preparar pessoas para assumir liderança e responsabilidades, daí a grande preocupação de formar elementos capazes de exercer funções em que tenham poder de decisão sobre bens ou pessoas sem que, nessa posição, venham a abusar de seu poder.